Meu nome é Adriana Inês Alves, sou autista, enfermeira e servidora pública no município de Contagem desde maio de 2005. Atualmente, atuo no setor de biossegurança do Serviço Social Autônomo (SSA).
Escolhi a enfermagem por inspiração da minha tia, que era técnica na área. Se não tivesse seguido esse caminho, talvez teria optado por medicina veterinária. Gosto muito de animais, e acredito que esse vínculo também esteja relacionado ao meu perfil autista. A questão é que sempre senti uma forte necessidade de cuidar e também de ser cuidada, são sentimentos que me aproximaram da minha atual profissão.
Recebi meu diagnóstico aos 51 anos. Antes disso, enfrentei inúmeros diagnósticos equivocados ao longo da vida, além de episódios de depressão e ansiedade. Fiz diversas terapias e tratamentos psiquiátricos, até decidir realizar uma avaliação neuropsicológica.
Durante a avaliação, a neuropsicóloga identificou o Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH e altas habilidades. Provavelmente, eu me encaixava no nível de suporte 2, mas, com o tempo, migrei para o nível 1. Minhas dificuldades de comunicação sempre foram intensas, o que impactava minha vida profissional, familiar e social.
Muitas vezes, minha forma de expressão era mal interpretada, meu tom de voz, meu olhar. Características que podiam parecer arrogância ou desinteresse, mas que, na verdade, são manifestações comuns do autismo. Sustentar contato visual, por exemplo, é algo bastante desafiador para mim.
Na comunicação, às vezes usamos termos inadequados ou temos dificuldade em perceber as emoções e intenções dos outros, o que pode gerar mal-entendidos. Mas, após o diagnóstico, minha rotina melhorou significativamente. Passei a receber o acompanhamento adequado, com terapia específica para TEA e medicação para o TDAH.
Na minha infância, nos anos 70 e 80, havia pouco ou nenhum conhecimento sobre o autismo, tanto nas famílias quanto entre os profissionais de saúde. Somente nos últimos anos a ciência passou a compreender melhor o espectro. Hoje, há mais visibilidade sobre o TEA. Faço uso da CIPTEA (Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista) e do cordão de girassol ou de quebra cabeça. O adesivo também é essencial, principalmente em atendimentos hospitalares com crianças. Não tive esse tipo de suporte, por isso entendo a importância de dar visibilidade ao tema. Símbolos como esses promovem conscientização e acolhimento, são pilares fundamentais para a inclusão.
Com a atual gestão do SSA, percebo grandes avanços, principalmente na organização dos processos e na qualidade dos serviços de apoio. A implementação de metodologias voltadas para resultados tem sido extremamente positiva. Em pouco tempo, vimos melhorias significativas na infraestrutura, na reposição de materiais e medicamentos, algo que sempre foi um desafio no passado.
Também noto uma transformação no perfil da liderança. Hoje temos gestores mais preparados, comprometidos com o funcionamento e a imagem da instituição, algo raro anteriormente. Nunca tivemos uma estrutura como a de agora. Essa evolução me deixa feliz e me dá suporte para desempenhar minhas funções com mais segurança.
O autismo não tem cura, mas o tratamento adequado faz toda a diferença para nossa adaptação a um mundo que pode ser comumente hostil.
Wendel Júnior da Silva
Meu nome é Wendel Júnior, tenho 36 anos e sou formado em Gestão Pública. Sou autista com nível 1 de suporte, antigamente era chamado de Síndrome de Asperger. Recebi meu diagnóstico aos 34 anos, então considero uma descoberta recente. Costumo brincar com minha família dizendo que é algo "novo e antigo": novo pelo pouco tempo de confirmação, mas antigo porque, desde a adolescência, já percebia que havia algo diferente. Por volta dos 16 ou 17 anos, comecei a notar esses sinais, mas, na época, quase não se falava sobre o assunto.
Trabalho no SSA há um ano e sete meses, atuando no SAME (Serviço de Arquivo Médico e Estatístico), setor responsável por prontuários médicos e boletins de entrada. Somos a última etapa antes da digitalização dos documentos. Também cuidamos das cópias que são entregues a pacientes, familiares ou representantes legais, especialmente em casos envolvendo menores ou óbitos.
Antes de ingressar no SSA, trabalhei como monitor de crianças em Belo Horizonte, inclusive com crianças autistas e com outras deficiências. Acredito que essa experiência também tenha despertado algo dentro de mim. Durante esse período, enfrentei perdas familiares marcantes, como a morte dos meus avós, o que desencadeou uma depressão. Foi nesse contexto que iniciei acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e recebi o diagnóstico de TEA.
Sou autodidata e aprendi idiomas por conta própria, usando apenas um aplicativo. Atualmente, falo seis línguas: inglês e espanhol em nível avançado, alemão e sueco em nível intermediário, e mandarim entre iniciante e intermediário.
Infelizmente, o autismo ainda é cercado de preconceitos. Muitas pessoas associam o transtorno apenas a casos graves, confundem com deficiência intelectual ou usam termos ofensivos como "doido", o que é extremamente doloroso.
Por isso, trabalhar em um ambiente como o SSA, onde há empatia, acolhimento e valorização das nossas particularidades, me deixa genuinamente feliz. Sentir-se compreendido faz toda a diferença.
Autor: Jornalistas - Aline Malta e Juliana Faria